A Cultura como Meio e Fim

09.02.2013

Mas nem só estas necessidades de ordem material impulsionaram sempre o homem; desde que a sua existência se encontrou suficientemente assegurada para não lhe ser necessário dedicar-lhe todos os seus momentos de atenção, o homem virou-se para a contemplação da natureza e dessa contemplação nasceu no seu espírito o sentido do belo, origem de todas as suas manifestações artísticas.

Por outro lado, ele depressa começou a viver em sociedade com os outros homens e a reconhecer a necessidade da cooperação com os seus semelhantes.

Essa associação teve a princípio como origem certamente um sentimento egoísta — tirar da colaboração com os outros homens o maior proveito possível para si próprio. Mas foi-se introduzindo lentamente nas relações sociais uma outra ideia — a de que cada um não deve utilizar as relações de sociedade unicamente com o objectivo de tirar daí interesse ou proveito próprio, deve também dar aos outros o seu esforço para os auxiliar. É o sentimento do belo introduzido nas relações sociais, dando ao homem objectivos de ordem moral.

O aperfeiçoamento constante dos meios de satisfação e desenvolvimento das necessidades, ideias e sentimentos, constitui a cultura, que no dizer de Karl Marx “compreende o máximo desenvolvimento das capacidades intelectuais, artísticas e materiais encerradas no homem”.

A cultura é assim simultaneamente um meio e um fim.

BENTO DE JESUS CARAÇA, “Conferência na Universidade Popular”