Haloes and Auras

10.07.2012

Marx and Engels point out that capitalism has stripped off the halo of the doctor, the lawyer, the priest, the poet, and the man of science.[1] These occupations are no longer put on a pedestal the way they were. The removal of these haloes brings all people to the same plane of being — which is why there is a defensive tendency to introduce new divides and gulfs between human beings.

Walter Benjamin was perhaps thinking about this when he wrote the influential essay “The Work of Art in the Age of Mechanical Reproduction” and developed the concept of aura. He writes

We define the aura [...] as the unique phenomenon of a distance, however close it may be. If, while resting on a summer afternoon, you follow with your eyes a mountain range on the horizon or a branch which casts its shadow over you, you experience the aura of those mountains, of that branch.[2]

So the aura may be thought of as an emanation from something distant as well as a kind of fingerprint. The aura of a thing is then connect with its uniqueness. Reproducible works of art like films are obviously not unique, not one of a kind. Yet each film plays a role in the world, transformative or not, that is specific. The same may be said of each person and occupation.

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[1] Karl Marx and Friedrich Engels, Manifesto of the Communist Party, ch. I, http://www.marxists.org/
archive/marx/works/1848/communist-manifesto/ch01.htm#007
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[2] Walter Benjamin, “The Work of Art in the Age of Mechanical Reproduction”, sec. III, http://
www.marxists.org/reference/subject/philosophy/works/ge/benjamin.htm
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De Derrida

04.07.2012

Cada texto manifesta uma presença subterrânea na linguagem, um vestígio. Os textos constroem uma sequência feita de impressões e marcas que podem ser salientadas e valorizadas em vez de ignoradas e desprezadas. Um texto aparece sempre no interior de uma rede de relações — exactamente como nós. A desconstrução não é portanto uma destruição. É uma tentativa de abrir a complexidade da construção de um texto — mesmo que contra o seu declarado autor, cuja intenção não é mais do que um elemento do muito que gera um texto.

A palavra escrita não é um mero registo da palavra falada. Tal como a linguagem não é meramente funcional. Escancaramos os textos nos seus elementos constitutivos, quebramos a sua forma, quando lemos e relemos, citamos e recitamos, partimos e repartimos. Um texto surge como um puro objecto diferencial — uma “diferença” que expõe conflitos estruturais, não redutíveis a uma síntese. Porque a palavra esconde e revela, delimita e contamina. Os múltiplos significados das palavras e das frases tornam impossível decidir ou determinar o sentido de um texto. Tudo permanece (em) aberto. Quem pretende ser definitivo em relação a esta decisão ou determinação, idealiza a relação com o texto. Desdenha a história. Subtrai-se ao tempo e ao espaço onde encontra o texto, aqui, agora.

A Radicalidade do Amor e da Política

01.07.2012

— Você publicou um livro sobre o amor, que é de uma sabedoria comovedora. Para um filósofo comprometido com a ação política e cujo pensamento integra as matemáticas, a aparição do tema do amor é pouco comum.

O amor é um tema essencial, uma experiência total. O amor está ameaçado pela sociedade contemporânea. O amor é um gesto muito forte porque significa que é preciso aceitar que a existência de outra pessoa se converta em nossa preocupação. No amor, o fundamental está em que nos aproximamos do outro com a condição de aceita-lo em minha existência de forma completa, inteira. Isso é o que diferencia o amor do interesse sexual. Este se fixa sobre o que os psicanalistas chamaram de “objetos parciais”, ou seja, eu extraio do outro alguns emblemas fetiches que me interessam e que suscitam minha excitação desejante. Não nego a sexualidade, pelo contrário. Ela é um componente do amor. Mas o amor não é isso. O amor é quando estou em estado de amar, de estar satisfeito e de sofrer e de esperar tudo o que vem do outro: a maneira como viaja, sua ausência, sua chegada, sua presença, o calor de seu corpo, minhas conversas com ele, os gostos compartilhados. Pouco a pouco, a totalidade do que o outro é torna-se um componente de minha própria existência. Isso é muito mais radical que a vaga ideia de preocupar-me com o outro. É o outro com a totalidade infinita que representa e com o qual me relaciono em um movimento subjetivo extraordinariamente profundo.

— Em que sentido o amor está ameaçado pelos valores contemporâneos?

Está ameaçado porque o amor é gratuito e, desde o ponto de vista do materialismo democrático, injustificado. Por que deveria me expor ao sofrimento da aceitação da totalidade do outro? O melhor seria extrair dele o que melhor corresponde aos meus interesses imediatos e aos meus gostos e descartar o resto. O amor está ameaçado hoje porque é distribuído em fatias. Observemos como se organizam as relações nestes portais de internet onde as pessoas entram em contato: o outro já vem fatiado em fatias, um pouco como a vaca nos açougues. Seus gostos, seus interesses, a cor dos olhos, o corte dos cabelos, se é grande ou pequeno, loiro ou moreno. Vamos ter uns 40 critérios e, ao final, vamos nos dizer: vou comprar este. É exatamente o contrário do amor. O amor é justamente quando, em certo sentido, não tenho a menor ideia do que estou comprando.

— E frente a essa modalidade competitiva das relações, você proclama que o amor deve ser reinventado para nos defendermos, que o amor deve reafirmar seu valor de ruptura e de loucura.

O amor deve reafirmar o fato de que está em ruptura com o conjunto das leis ordinárias do mundo contemporâneo. O amor deve ser reinventado como valor universal, como relação em direção da alteridade, daquilo que não sou eu e onde a generosidade é obrigatória. Se não aceito a generosidade, tampouco aceito o amor. Há uma generosidade amorosa que é inevitável. Sou obrigado a ir na direção do outro para que a aceitação do outro em sua totalidade possa funcionar. Essa é uma excelente escola para romper com o mundo tal como é. Minha ideia sobre a reinvenção do amor quer dizer o seguinte: uma vez que o amor se refere a essa parte da humanidade que não está entregue à competição, à selvageria; uma vez que, em sua intimidade mais poderosa, o amor exige uma espécie de confiança absoluta no outro; uma vez que vamos aceitar que este outro esteja totalmente presente em nossa própria vida, que nossa vida esteja ligada de maneira interna a esse outro, pois bem, já que tudo descrito acima é possível isso prova que não é verdade que a competitividade, o ódio, a violência, a rivalidade e a separação sejam a lei do mundo.

— A política não está muito afastada de tudo isso. Para você, há uma dimensão do amor na ação política?

Sim, inclusive pode resultar perigoso. Se buscamos uma analogia política do amor eu diria que, assim como no amor onde a relação com uma pessoa tem que constituir sua totalidade existencial como um componente de minha própria existência, na política autêntica é preciso que haja uma representação inteira da humanidade. Na política verdadeira, que também é um componente da vida verdadeira, há necessariamente essa preocupação, essa convicção segundo a qual estou ali enquanto representante e agente de toda a humanidade. Do mesmo modo que ocorre no amor, onde minha preocupação, minha proposta e minha atividade estão ligadas à existência do outro em sua totalidade.

ALAIN BADIOU, entrevistado por Eduardo Febbro, “O Comunismo é a Ideia da Emancipação de Toda Humanidade”