Penso que o conteúdo histórico das ideias sempre pode ser declarado desastroso. Os democratas nos falam da democracia, mas se olhamos de perto a história das democracias, ela está cheia de desastres. Para tomar o exemplo mais elementar, se tomamos a Primeira Guerra Mundial, ela foi lançada por democratas, democratas alemães, ingleses e franceses. Foi um massacre inimaginável, o qual já se demonstrou esteve ligado a apetites financeiros nas colónias africanas, apetites que não diziam respeito áqueles que seriam massacrados mais tarde. Houve milhões de mortos e de sacrificados em condições espantosas e, aceite-se ou não, isso é parte da história das democracias. Se interrogamos o conjunto das experiências históricas veremos que todo o mundo tem sangue até as orelhas.
No que se refere à palavra “comunista” em si, da mesma maneira que ocorre com a palavra “democracia”, sempre se pode argumentar que ambas tem sangue até as orelhas. Mas, por acaso, é preciso sempre inventar outra palavra? Tomemos, por exemplo, o “cristianismo”. O cristianismo é São Francisco de Assis, a santidade verdadeira, o advento da ideia de uma verdadeira generosidade para com os pobres, a caridade, etc., etc. Mas, do outro lado, também é a inquisição, o terror, a tortura e o suplício. Por acaso vamos dizer que é um crime alguém se chamar de cristão? Ninguém diz isso. Eu defendo uma espécie de absolvição dos vocábulos.
— ALAIN BADIOU, entrevista de Eduardo Febbro, “O Comunismo é a Ideia da Emancipação de Toda Humanidade”
O Conteúdo Histórico das Ideias
The Claim to Community
The philosophical appeal to what we say, and the search for our criteria on the basis of which we say what we say, are claims to community. And the claim to community is always a search for the basis upon which it can or has been established. I have nothing more to go on than my conviction, my sense that I made sense. It may prove to be the case that I am wrong, that my conviction isolates me from others, from all others, from myself. That will not be the same as a discovery that I am dogmatic or egomaniacal. The wish and search for community are the wish and search for reason.
— STANLEY CAVELL, The Claim of Reason
Thinking About Christianity and Marxism Philosophically
For what Marx and the Christian traditions of negative theology have in common is their rejection of a describable God; all deny essentialism whether in theistic or atheistic forms since for none is there any common essence of the divine, the human or the natural which can be appropriated in language, social order or personal experience. All, as it were, demand that we should love in divine darkness, in a world deprived of any ultimate meaning which is at our disposal, for either, as in Marx, there is no such transcendent meaning, or as in the mystic, there is, but it is not at our disposal. And if at this point the charge is repeated that it is simply perverse to ignore the difference between the theist apophaticist and the atheist Marx; since manifestly what for the one is mystery is for the other mystification; then it would be possible to say this much, speaking for myself: I do not, of course, deny the importance of this distinction between the Marxist and the Christian, howsoever apophatic. But to produce that distinction requires a doctrine of God which is post-Marxist, a theology which has been unnerved by the closeness of the engagement in which it must associate with Marx’s atheism and has thereby problematised its own very possibility as a discourse.
— DENYS TURNER, “Marxism, Liberation Theology and the Way of Negation”