De Derrida

04.07.2012

Cada texto manifesta uma presença subterrânea na linguagem, um vestígio. Os textos constroem uma sequência feita de impressões e marcas que podem ser salientadas e valorizadas em vez de ignoradas e desprezadas. Um texto aparece sempre no interior de uma rede de relações — exactamente como nós. A desconstrução não é portanto uma destruição. É uma tentativa de abrir a complexidade da construção de um texto — mesmo que contra o seu declarado autor, cuja intenção não é mais do que um elemento do muito que gera um texto.

A palavra escrita não é um mero registo da palavra falada. Tal como a linguagem não é meramente funcional. Escancaramos os textos nos seus elementos constitutivos, quebramos a sua forma, quando lemos e relemos, citamos e recitamos, partimos e repartimos. Um texto surge como um puro objecto diferencial — uma “diferença” que expõe conflitos estruturais, não redutíveis a uma síntese. Porque a palavra esconde e revela, delimita e contamina. Os múltiplos significados das palavras e das frases tornam impossível decidir ou determinar o sentido de um texto. Tudo permanece (em) aberto. Quem pretende ser definitivo em relação a esta decisão ou determinação, idealiza a relação com o texto. Desdenha a história. Subtrai-se ao tempo e ao espaço onde encontra o texto, aqui, agora.